As
horas seguem-se umas às outras, o tempo passa célere... Se essa
percepção tiver algo a ver com um jogo de futebol, quando o time da
gente precisa construir um resultado, então, pode-se dizer mesmo que os
minutos esgotam-se como raios despencando na terra nua. Dependendo do
placar final, vamos viver em seguida momentos de aborrecimento ou
felicidade.
Entre a implacabilidade do cronômetro e o último apito de Sua Senhoria,
a angústia de um gol que teima em não chegar... Mas eis que, no
instante em que quase ninguém espera mais o lance salvador, um pênalti
bem marcado pode reacender a esperança. Se o cobrador for um baixinho
habilidoso chamado Ley, a esperança pode virar ordem, pode virar lei.
E assim, cortando as asas de uma águia
que adora flanar nas alturas do céu azul (não por acaso a cor da
própria camisa), o Rio Branco, num desses momentos em que o destino
resolve jogar seus dados viciados num palco denominado Arena, marca um
gol salvador que o mantém vivo na busca de uma chance de ascender no
campeonato brasileiro de futebol.
A estrela vermelha riobranquina, depois
de perder duas vezes (Luverdense, em casa, e Águia, na casa desta),
parecia um símbolo sem força (ou sem brilho, como convém dizer quando
se trata de um corpo celeste). Sobreveio até, após os tropeços, o temor
de um descenso humilhante e indesejado. Olhares enviesados passearam
pelas noites frias.
O símbolo apenas parecia sem força. Uma
pequena mutação no comportamento de uma equipe, entretanto, pode
proporcionar o desvio do percurso de forma tão radical que faz balançar
até o mais empedernido dos céticos. Pode fazer voltar a força do
símbolo. Pode fazer o sonho tornar-se novamente factível. A capacidade
de superação e os números atestam isso.
As duas vitórias seguidas do Estrelão
(Araguaína e Águia), o credenciam novamente a tentar buscar um lugar
mais adiante. Ainda faltam dois combates (Luverdense e Paysandu). Um
jogo dentro e outro fora de casa. Ambos os jogos valendo seis pontos,
uma vez que contra adversários diretos. Duas pedreiras, é verdade. Mas
perfeitamente dentro do possível.
Nesse sentido de superação das próprias
limitações, eu diria que o Rio Branco joga pela vida. Na verdade, já
são duas as partidas que o Rio Branco joga pela vida. E, para não
perder a benéfica descarga de adrenalina, as próximas duas também serão
as partidas da vida. Mas registre-se (comprove-se?) que é sempre
possível conseguir uma sobrevida.
É isso. A morte e a vida podem (ou
devem) converter-se em espetáculo e narrativa. Os caminhos da bola
dividem-se entre formato (a esfera perfeita) e invenção (o toque mais
que perfeito). Que o Testinha continue encontrando a síntese entre
força e direção. Que a deusa da perfeita geometria o obedeça e voe
sempre para o ângulo do gol inimigo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário