domingo, 7 de agosto de 2011

Decadência domina o futebol na Região Norte

Com seis títulos das divisões de acesso do Brasileirão, conquistados por clubes do Pará, a Região Norte é a que tem menos representatividade no futebol brasileiro. As principais conquistas foram interestaduais, extintas do calendário nacional pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

É o caso da Copa Norte. Em 2002, o Paysandu-PA venceu o torneio e se classificou à Copa dos Campeões, da qual foi campeão e obteve vaga na Taça Libertadores. O Papão chegou à segunda fase invicto. O Bicolor ainda derrotou o Boca Juniors-ARG, por 1 a 0, no Estádio La Bombonera, mas perdeu por 4 a 2 em Belém-PA e foi eliminado.

A façanha foi o resultado mais expressivo de um clube do Norte. O Papão ainda coleciona um bicampeonato da Série B do Brasileiro (1991 e 2001). A Tuna Luso foi campeã da segunda divisão nacional em 1985 e da terceira em 1992, enquanto o Remo tem um título da Terceirona (2005). O São Raimundo, de Santarém-PA, venceu a Série D em 2009.

Luís Omar Pinheiro, presidente do Paysandu, atribui a decadência do time, a partir de 2005, às falhas de gestão. “O time teve todas aquelas conquistas e o dinheiro sumiu. Quando assumi (em 2008), o clube estava com uns R$ 37 milhões em dívidas”, revelou o dirigente, criticando a então gestão de Artur Guedes Tourinho.

Para Luís Omar, a razão pela qual o futebol no Norte entrou em falência na última década se deve à falta de atuação das federações de futebol. “As federações do Norte e parte do Nordeste hoje vivem a pão e água. Elas são entregues à CBF, que não valoriza essas regiões. Os dirigentes usam o dinheiro destinado a cuidar do interesse dos clubes para fazer viagens”, queixou-se.

O Ranking Nacional de Federações (RNF) da CBF é reflexo direto dessa realidade. A Federação Paraense de Futebol (FPF), a melhor ranqueada da região, é a 11ª colocada. A Federação Amazonense de Futebol (FAF) aparece na 18ª. Os outros cinco Estados (Acre - 23°, Tocantins - 24°, Rondônia - 25°, Amapá - 26° e Roraima - 27°) são os últimos colocados.

O Amazonas é o segundo Estado do Norte em número de conquistas. Além dos tradicionais Nacional, Rio Negro e Fast Clube, que disputaram a primeira divisão do Brasileiro há três décadas, o São Raimundo tem as principais conquistas. O Tufão foi tricampeão do Norte (1999 a 2001), vice da Série C em 1999 e terceiro colocado da Copa Conmebol também em 1999.

Na última década, os clubes amazonenses são sustentados com dinheiro público, mas o futebol regrediu da Série B para a última divisão do Brasileirão. Atualmente, o Estado sequer tem estádios com capacidade mínima de dez mil lugares para jogos nacionais.

Em 2010, o modesto América foi o vice-campeão da Série D, mas perdeu o título e o acesso por escalação irregular de um jogador.

Importação trava evolução

Atrás no ranking da CBF, o Acre, tecnicamente, está à frente do Amazonas. É que o Campeonato Acreano teve média de 700 torcedores pagantes este ano, enquanto no Amazonense o número não passou de 467,5 pessoas. Os acreanos ainda têm o Rio Branco na Série C.

O presidente da Federação Acreana de Futebol, Antônio Aquino Lopes, admite que o futebol está em ascendência no Estado. “Prova disso é que tivemos que criar a segunda divisão este ano”, justificou.

A primeira divisão do Acreano conta com oito agremiações e tempo maior de disputa. “São sete meses para os clubes que não participam do Brasileiro”, revelou Lopes. No Amazonas são quatro. A principal conquista do futebol acreano foi a primeira edição da Copa Norte, em 1997, vencida pelo Rio Branco.

Já o futebol rondoniense tem apenas 21 anos de profissionalismo sem nenhum título de relevância nacional ou regional. “Ainda tem muita coisa para fazer. Na era amadora, a maior conquista foi o Copão da Amazônia, duas vezes”, lembra o diretor de competições da Federação de Futebol do Estado de Rondônia (FFER), João Dalmo.

O Copão reunia clubes amadores da Amazônia. Para Dalmo, um dos principais defeitos dos clubes na região é a importação de jogadores. “Talvez isso seja um problema. Os clubes preferem resultados imediatos, contratando jogadores de fora, do que investir nas categorias de base”, reconheceu.

O técnico do Espigão-RO, Tiago Batizoco, considera que o Estadual de Rondônia tem bom nível técnico, mas admite que é quase impossível formar os times apenas com atletas da região. “Mais de 80% dos jogadores são de outros Estados, a maioria do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste”, observou.

O presidente da agremiação, João Bueno, que é vice-prefeito do Município de Espigão D´Oeste, admite que a falta de dinheiro é o maior obstáculo. “Há pouco investimento”, alegou. Ainda amadores e sem investimento.

O primeiro campeonato profissional do Estado de Roraima foi em 1995 e apenas três clubes participaram, sendo dois de Boa Vista (Atlético Roraima e Baré) e um de Mucajaí (Progresso). Atualmente são nove agremiações, mas apenas seis disputaram o Estadual deste ano. Ainda na era amadora, o primeiro regional foi realizado em 1974.

No Amapá, o futebol se tornou profissional em 1991 com apenas cinco clubes. Hoje, dez equipes compõem o Amapaense. A média de público ainda é baixa: aproximadamente mil expectadores vão aos jogos da competição regional.

O jornalista Mário Tomaz, que já trabalhou na Federação Amapaense de Futebol (FAF), atribui à falta de investimento do empresariado local o motivo pelo qual o Estado ainda não conseguiu destaque nacional. “Ainda não há investimento em jogadores de renome nos clubes do Amapá. Além do mais, o fim da Copa Norte também prejudicou os clubes amapaenses, pois nos tirou uma porta de entrada para as competições nacionais”, comentou Tomaz.

Calouro

O Estado de Tocantins, fundado em 1988, tem o campeonato estadual mais novo do País. O futebol passou a ser reconhecido profissionalmente a partir de 1993, ano em que foi criada a Federação Tocantinense de Futebol (FTF).

O principal feito dos clubes tocantinenses foi a participação na Copa Centro-Oeste, entre os anos de 1999 e 2002, contra times de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. Nas subdivisões do Campeonato Brasileiro, os clubes tocantinenses ainda não passaram da Série C, a terceira divisão.

A melhor colocação na Terceirona foi em 2003, quando o Palmas terminou na sétima colocação com 21 pontos. Atualmente, o Araguaína é o lanterna do Grupo A1 da Série C, com um ponto em três partidas.
Fonte: Bruno Elander e Bruno Tadeu

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