Quando o Santos conquistou a Taça
Libertadores ao derrotar o uruguaio Peñarol, no fim de junho, o meia
Paulo Henrique Ganso comemorava no campo entre lágrimas e abraços até
ser chamado pelo repórter Carlos Cereto, do canal pago SporTV, para
falar ao vivo sobre a vitória. Cereto colocou então fones de ouvido no
jogador, estendeu o microfone e pediu a ele que desse uma palavrinha com
o profissional que os ouvia na cabine do estádio. “Milton Leite, aqui é
Paaaaaaaulo Henrique Lima!”, disse o camisa 10 do Santos, falando seu
nome completo no exato estilo do narrador. O locutor conta essa história
para ilustrar o aumento de sua popularidade. Apesar de acumular uma
experiência de vinte anos no ofício, para ele ainda é novidade ser
imitado pelos craques, solicitado a tirar fotos e a dar autógrafos nas
ruas. “É a melhor fase da minha carreira”, afirma.
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Desde 2005 comandando jogos pelo SporTV, ele ficou mais conhecido dos
torcedores ao participar de transmissões de partidas na Globo, dona da
emissora fechada onde trabalha. Em abril — haja coração! —, substituiu
Galvão Bueno na narração do duelo entre Barcelona e Real Madrid pela
Liga dos Campeões da Europa (o titular ficou fora de combate por um
problema de saúde). O episódio foi marcante também porque Leite dividiu o
microfone com o ex-atacante Ronaldo, que fazia ali sua estreia como
comentarista de futebol. Num determinado momento, quando as câmeras
estavam focalizadas na dupla, os telespectadores flagraram o Fenômeno
caindo na gargalhada após o narrador soltar seu famoso e irônico bordão
“Que beleza!”, sempre pronunciado após alguma jogada bizarra. “A coisa
ficou tão popular que as pessoas me veem passando e falam: ‘Olha lá o
‘Que beleza’”, conta. “E nem fui eu quem inventou isso.” O pai da
expressão é Wanderley Nogueira, experiente repórter de campo da Rádio
Jovem Pan. Leite aprendeu a frase na época em que os dois trabalharam
juntos nos anos 90 e, com o passar do tempo, carregando no tom cômico,
transformou-a numa de suas marcas registradas.
Reprodução
Final da Champions League: Milton dividiu o microfone com o ex-jogador Ronaldo
Paulistano da Vila Olímpia, ele sempre teve afinidade com esporte. Na
adolescência, disputou judô, natação, vôlei e tênis. Até hoje não abre
mão de correr e nadar duas vezes por semana. “Graças a isso, ele tem uma
impressionante capacidade de falar sobre qualquer modalidade”, diz o
amigo André Kfouri, repórter da concorrente ESPN Brasil. Apesar do ar
pacato, Leite já se envolveu em boas brigas. Em 2001, durante uma
partida de basquete do Vasco, criticou o então presidente do clube,
Eurico Miranda. Irritado, o notório e encrenqueiro cartola foi até o
local do jogo tirar satisfação, posicionou-se atrás do narrador e
começou a ofendê-lo. As câmeras da transmissão flagraram o atônito
jornalista pedindo ajuda da segurança para evitar o pior.
Acervo pessoal
Fases da carreira: em 1979, na Rádio Difusora de Jundiaí
Em outra ocasião, sem saber que estava no ar, chamou de chato o
goleiro Rogério Ceni, do São Paulo. Há dez dias, envolveu-se numa nova
saia justa ao criticar em seu blog o presidente da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. No texto, comentava uma
reportagem da revista “Piauí” em que o dirigente é apresentado como
alguém de linguajar chulo e que vê a mídia, especialmente a Globo,
subserviente a ele. O narrador foi o único entre os funcionários a
repercutir a reportagem, causando um certo mal-estar na emissora. “O que
eu tinha para dizer está escrito no blog, não comento mais o assunto”,
afirma o locutor.
Acervo pessoal
Em serviço: ao lado do repórter Wanderley Nogueira e do colunista Tostão
Em 2004, abandonou um salário de 36.000 reais na ESPN Brasil após se
desentender com o diretor José Trajano. Passou quatro meses fora da
televisão, até ser convidado pelo SporTV para receber um terço do valor
pago pelo antigo emprego. Hoje, ganha cerca de 40.000 reais por mês,
ainda pouco comparado ao patamar de um narrador global como Cléber
Machado, que embolsa cerca de cinco vezes mais. Leite começou a carreira
em Jundiaí, para onde se mudou com a família aos 15 anos. “Queria ter
sido escritor, e o jornalismo era o mais próximo que eu poderia chegar”,
afirma. Fez a escolha certa. “É um dos melhores do Brasil”, diz o
apresentador Milton Neves, da Rádio Bandeirantes. Se essas qualidades
serão suficientes para levá-lo ainda mais longe na carreira, é cedo para
dizer. Por enquanto, segue o jogo.
Alexandre Battibugli
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